Resenha: On the Road - Pé na estrada


“Uns são uns filhos da puta, outros não, e isso é tudo”


            Vivo em uma relação de amor e ódio com o livro “Pé na Estrada“ (On the Road)  do autor insano Jack Kerouac, lançado em 1957, e editado pela L&PM em 2012 com 292 páginas. Essa relação de duplicidade de sentimento se dá pela vontade de sair de mochila e explorar o mundo que se tem ao lê-lo, que é única, assim como a decepção de ser uma pessoa muito certinha, covarde e pé no chão para seguir o exemplo de Paradise.

Não gosto muito desta capa mas é a que tá estante. 


            On the Road  é uma narrativa em primeira pessoa, na qual Sal Paradise, um estudante, aspirante a escritor, norte americano em meados da década de 50, que conhece um vagabundo viciado em aventura, Dean Moriaty.  Sal se encanta com o amor ao jazz, a literatura e a vontade de aprender de Dean, mas principalmente, com as possibilidades que esse novo companheiro lhe abre.

            Após conhecer Sal, Dean volta para Denver sua cidade natal. Sal logo sente fome de novidade, fome de aventura, fome do desconhecido. Então pega suas economias uma mochila, atravessa os Estados Unidos ao encontro do companheiro, em meio a diversas paradas, longas ou curtas, narradas com minuciosidade de detalhes, a ponto de cada cena, cada detalhe do cenário, ser possível de ser imaginada. Até que, enfim, os dois se encontram e saem, finalmente juntos, ao encontro de algo mais, ao encontro de liberdade plena.

“Minhas falhas e meus fracassos não são as minhas paixões, mas sim a falta de controle que tenho sobre elas.”

            Ao longo de idas e vindas pela estrada, Sal e Dean conhecem uma cambada de malucos, que em alguns momentos os acompanham, outros causam intrigas, amores e desamores, mas todos eles apenas tem vontade de viver. Não precisavam de muito, dinheiro pra gasolina, pra bebida, para drogas e  para mulheres, se não tivessem isso, um trabalho temporário, uma carona, um teto pra dormir já bastava.

 “Para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações"

            O relato de Sal muitas vezes é confuso, sem objetivo, sem organização, o que exemplifica o estado do narrador durante a trama, seus sentimentos confusos com relação a Marylou esposa, amante e amiga do melhor amigo, ou em relação ao egocentrismo de Dean que, muitas vezes, não percebe que suas atitudes são egoístas e absurdas, até mesmo para seu fiel Sal!

“Gosto de muitas coisas ao mesmo tempo e me confundo inteiro e fico todo enrolado  correndo de uma estrela cadente para outra até desistir. Assim é a noite e é isso que ela faz com você, eu não tinha nada a oferecer a ninguém a não ser minha própria confusão.”

             Ao ler o livro, de inicio fiquei um pouco sem entender o porque de tanta, loucura e fuga da realidade, dessa necessidade de viver sem preocupações, sem a necessidade de prazos, obrigações, com vontade de unicamente viver o momento, cada momento e isso enquanto eu lia o livro me deixou meio incomodada. Ao me aprofundar um poquinho na realidade dos anos 40/50 eu entendi o porquê de tudo isso.




             Veja bem, o cenário americano daquela época era muito regrado, a escrita era muito certinha, a cidade era pouco aberta às loucuras juvenis. Quando Kerouac lançou seu livro foi um BOOM para uma geração, que estava em uma panela de pressão prestes a explodir em busca do seu individualismo, do seu auto conhecimento, da sua espontaneidade e principalmente da sua liberdade. 

             Como Kerouac, também viajou pelos Estados Unidos, na mesma época e ritmo de Sal, muitas vezes sua obra é dita como autobiográfica na qual ele seria Sal, outros dizem que ele seria Dean, outros dizem que apenas uma ficção muito realista. As especulações não coube a mim julgar.

            A edição brasileira, disponibilizada pela LP&M, conta com uma introdução e um posfácio excelentes escritos pelo tradutor Eduardo Bueno. Contando um pouco da personalidade de Kerouac, que escreveu seu livro evitando ao máximo pontos, parágrafos, interrupções, que resultou em um rolo contínuo de papel. Conta tambem sobre sua tendência a musicalidade na escrita, suas outras obras, além das reações de jovens como Bob Dylan, Jim Morrison, Beck, entre outros, ao ler o livro, e sua influência do mesmo nessa geração que marcou gerações. A chamada geração Beat.



A obra foi adaptada para os cinemas pelo brasileiro Walter Sales, não me agradou muito, mas sobre isso a gente comenta outra hora, pra quem se interessar tá aí o trailer:



5 comentários

  1. Muito boa a sua resenha, muito legal você ter citado a situação histórica da época para explicar melhor o contexto do livro.

    ResponderExcluir
  2. Lara, adorei a sua resenha! Realmente, a princípio não entendemos e não nos identificamos muito com o livro, mas se pararmos para avaliar o contexto no qual ele foi escrito, faz todo sentido. Sem duvidas, "On the road" foi um grito de liberdade para aquela época!

    E assim como você, não gostei muito do filme. Maaaaas, deixamos esse papo para outra hora, né? rs

    O blog está cada vez mais lindo, parabéns!
    Beijos.
    Thati;
    http://nemteconto.org

    ResponderExcluir
  3. Olá Thati, que bom que gostou e que compartilhamos da mesma opinião! :) e que grito foi esse que ecoa até hoje, não?!

    Dani, obrigada pelo comentário e pelos elogios! :)


    beijos!

    ResponderExcluir
  4. Sou louca para ler esse livro. Aliás, sou fascinada pela geração beat desde que vi um seminário na faculdade a respeito. Li O Uivo do Allen Ginsberg que desencadeou todo o movimento. Foi a primeira vez que a literatura deixou de ser apenas literatura e se espalhou pela cultura popular. Inclusive, dizem que os Beatles se chamam assim (Beat e Beet[les]) por causa dessa geração. Enfim... Adorei a resenha e já me apaixonei pelo Sal, só porque ele é esse cara aventureiro que eu gostaria de ser.
    Enfim, gostei do seu blog também e vou seguir a aparecer por aqui frequentemente. Beijos ;*

    ResponderExcluir
  5. Não sabia essa dos Beatles Dany!! Não li O Uivo e desconheço o enredo, recomenda?
    Quando leeeer, me conte o que achou depois e se você também teve vontade de sair fazendo umas loucuras por ai.
    Que bom que gosto! volte sempree! :)

    um beeijo!

    ResponderExcluir

Olá! Obrigada por dar uma passadinha por aqui, sua opinião e seu comentário são muito importantes para mim. Se você deixar um comentário construtivo pode ter certeza que retribuirei, mas se vier com apenas com um "estou seguindo" desista ok?! Um beeijo Lara e Rê! :)